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Tarifaço de Trump ao Brasil: impactos podem chegar a São Marcos e comprometer exportações, mão de obra e crescimento local

Medidas adotadas pelo governo norte‑americano ameaçam cadeias produtivas brasileiras e acendem alerta em setores industriais do interior gaúcho, como o de móveis e autopeças; em entrevista ao São Marcos Online  o administrador e presidente do Conselho Fiscal da CIC São Marcos, Flávio Sandi, fez uma análise detalhada sobre os impactos das tarifas na economia local.

Atualizado em 25/07/2025 às 14:07, por Angelo Batecini.

Tarifaço de Trump ao Brasil: impactos podem chegar a São Marcos e comprometer exportações, mão de obra e crescimento local

Aérea da área industrial de São Marcos (RS), com destaque à fábrica da Bepo em primeiro plano — maior complexo especializado na produção de autopeças e componentes automotivos — e, ao fundo à esquerda, a unidade da Bontempo Móveis, referência na indústria moveleira. Ambas representam os principais setores industriais da cidade: metal-mecânica e madeireira. Foto: divulgação Bepo

A recente decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar tarifas de 50% sobre uma série de produtos brasileiros acendeu o alerta em diversos setores da economia nacional. Embora as atenções estejam voltadas à macroeconomia, os reflexos podem ser sentidos diretamente em cidades industriais do interior, como São Marcos, na Serra Gaúcha. O impacto atinge não apenas as exportações, mas também o tecido social e produtivo da cidade, que já enfrenta gargalos estruturais como a falta de mão de obra e moradias.

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Em entrevista ao São Marcos Online, o administrador e presidente do Conselho Fiscal da CIC (Câmara da Indústria, Comércio, Serviços e Agropecuária de São Marcos), Flávio Sandi, fez uma análise detalhada sobre os impactos das tarifas e também sobre as dificuldades locais para manter o ritmo de crescimento. Ele lembra que, embora atualmente a cidade não conte com indústrias exportadoras em grande escala como no passado – quando o setor calçadista liderava as vendas internacionais –, empresas locais ainda exportam móveis e autopeças, inclusive para os Estados Unidos.

“Se essas tarifas de 50% permanecerem, ficam inviabilizadas as exportações de autopeças e móveis, que são nossos principais produtos. A pressão vai ser por baixar preços, mas ninguém tem 30% de margem para absorver esse custo”, explica Sandi.

O impacto na economia brasileira e no setor exportador

 

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Presidente do Conselho Fiscal da CIC (Câmara da Indústria, Comércio, Serviços e Agropecuária de São Marcos), Flávio Sandi.

Segundo os dados analisados pelo economista, estima-se uma perda de até US$ 15 bilhões nas exportações brasileiras com a nova política tarifária dos EUA, o que representa cerca de 0,6% do PIB nacional. Isso afetaria principalmente o agronegócio (café e suco de laranja), petróleo, aço e aeronaves — todos setores com interdependência de cadeias logísticas e fornecimento que envolvem empresas brasileiras de diferentes portes.

O Brasil exportou cerca de US$ 40,4 bilhões aos EUA em 2024, e importou US$ 40,7 bilhões, gerando superávit para os norte-americanos. Mesmo assim, o governo de Donald Trump incluiu o Brasil em um pacote tarifário que atinge também outras nações. O risco agora, alerta Sandi, é uma retaliação ideológica do governo brasileiro, como a aplicação da lei da reciprocidade econômica, o que poderia elevar ainda mais os custos de importação e inflacionar a economia.

“Se o Brasil aplicar tarifas também, é uma política de perde-perde. Nossa inflação vai subir e nossos custos também. Uma depreciação do real de 6% já está prevista, o que pode levar a inflação a 5,5% ao ano”, avalia o economista.

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Efeitos locais: queda na produção e nas contratações

Apesar de São Marcos não ser diretamente dependente do mercado norte-americano como em décadas anteriores, o efeito indireto é preocupante. O encarecimento ou inviabilização de exportações compromete o funcionamento de cadeias inteiras — da produção à logística — afetando também empresas fornecedoras e a oferta de empregos.

“Se não exporta móveis, não compra matéria-prima, não emprega, não transporta. A cadeia inteira sente. São Marcos não tem volume grande de exportação agora, mas tem empresas envolvidas nessas cadeias produtivas”, destaca Sandi.

Além disso, o setor industrial local convive com um problema recorrente: a escassez de mão de obra qualificada. Com o pleno emprego ou a baixa disponibilidade de trabalhadores na cidade, empresas enfrentam limitações para expandir ou manter níveis de produção.

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“O crescimento das empresas de São Marcos está comprometido pela falta de mão de obra. E não conseguimos atrair gente de fora porque não temos onde acomodar essas pessoas”, afirma o representante da CIC.

Falta de moradias dificulta atração de trabalhadores

Para enfrentar o problema, uma das apostas da entidade é apoiar projetos de habitação. A CIC está colaborando com um empresário local que deve lançar um loteamento voltado a trabalhadores com renda média, com terrenos destinados à construção de residências financiadas ou à vista.

“É uma solução de médio e longo prazo. Mas é necessário. A cidade tem estrutura, é atrativa, mas não tem onde alojar quem vem de fora para trabalhar”, aponta Sandi.

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A importância de uma política industrial estratégica

Com um perfil industrial forte, São Marcos se beneficia diretamente da presença de indústrias como geradoras e distribuidoras de riqueza. No entanto, para que o município continue competitivo e atraente, é necessário um alinhamento entre políticas públicas habitacionais, de qualificação e de incentivo à produção — especialmente em momentos de instabilidade internacional.

“Cidades que não têm indústria têm orçamentos menores e menos qualidade de vida. Temos o privilégio de ter indústria e agora estamos vendo crescer também o setor agrícola. Mas precisamos cuidar para manter esse modelo sustentável”, conclui o representante da CIC.

Perfil de São Marcos (RS) — dados locais coletados pelo São Marcos Online

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  • Exportações 2024: US$ 25,0 mi (queda de 0,7% em relação a 2023).
  • Importações 2024: US$ 17,0 mi (+9,5%).
  • Saldo comercial: superávit de US$ 8 mi (0,1% do total).
  • Exportações no 1.º semestre 2025: US$ 13,4 mi (+16,4% vs 1S2024).
  • Importações no 1.º semestre 2025: US$ 12,0 mi (+51,1%).
  • Saldo no semestre: US$ 1,5 mi (+30,5% no fluxo total) com superávit de 0,2%.

Parceiros principais:

  • Exportação 2024: predomínio da Alemanha, Argentina e Bolívia, com os EUA participando com cerca de 10,4% do fluxo.
  • Importações 2024 / 2025: os EUA também aparecem, mas com menor peso relativo, ao lado de Chile, Argentina, Alemanha e Paraguai.

Principais produtos exportados:

  • Autopeças e componentes de transporte (~22 %), móveis (~19 %), máquinas e plásticos (~10–30 %).

Principais produtos importados:

  • Equipamentos (bombas, máquinas‑ferramentas etc.) com ~19–20% no total de importações.

Análise de risco para São Marcos diante do tarifaço

Dependência sobre exportações para os EUA ainda é limitada, porém significativa para segmentos como autopeças e máquinas. A tarifa de 50% poderia inviabilizar contratos diretos, reduzir competitividade e fustigar pedidos dos EUA.

Produtos que já sofreram forte variação positiva nas importações em 2025, como máquinas-ferramentas e componentes (incremento de mais de 50%), podem ficar mais caros para empresas locais que importam dos EUA — afetando custos industriais internos.

Potencial perda de mercados atuais: mesmo que os EUA não sejam o principal destino, um recuo súbito da demanda americana poderia impactar cadeias exportadoras regionais, especialmente se houver redirecionamento para China ou Europa com barreiras logísticas ou burocráticas.

Valorização do mercado europeu e mercosul: avanço com Alemanha e Argentina em exportações pode absorver parte da demanda externa perdida dos EUA — mas demanda tempo e redes comerciais.

Fonte dos dados: Comex Stat