Setembro Amarelo: Psicóloga alerta para os cuidados com o aumento dos casos de ansiedade e depressão em crianças
Luana Mello, docente do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, indica que o tratamento com medicação deve ser utilizado em últimos casos

Conforme o levantamento, o número de atendimentos por transtornos de ansiedade em crianças de 10 a 14 anos cresceu 2.500% nos últimos dez anos
Dados do Ministério da Saúde sobre a saúde mental das crianças e adolescentes do Brasil mostra que os quadros de ansiedade e depressão entre os pequenos bateram recorde em 2025, registrando grande número de atendimentos por transtornos variados, e formando um cenário que preocupa especialistas e famílias.
Conforme o levantamento, o número de atendimentos por transtornos de ansiedade em crianças de 10 a 14 anos cresceu 2.500% nos últimos dez anos, saltando de 1.850 registros em 2014 para mais de 24.300 casos em 2024. Entre adolescentes de 15 a 19 anos, o avanço foi ainda mais alarmante: +3.300% no mesmo período, com mais de 53 mil atendimentos anuais registrados no Sistema Único de Saúde (SUS).
O fenômeno não é exclusivo do Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa de ansiedade em crianças subiu de 7,1% para 10,6% entre 2016 e 2022. A depressão infantil também aumentou de 3,2% para 4,6% no mesmo período. Especialistas apontam as redes sociais como um dos principais gatilhos para a saúde mental de crianças e pré-adolescentes em todo o mundo.
Segundo Luana Mello, docente do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de Porto Alegre, não é possível mapear com exatidão as causas que levam a esse aumento de problemas mentais nas crianças, mas é possível identificar gatilhos e potenciais ativadores desses problemas.
“Diversos fatores podem contribuir para essa tendência, muitos dos quais estão ligados a mudanças no estilo de vida moderno, na sociedade e no ambiente ao redor das crianças Os casos mais comuns são alterações hormonais ou estruturas cerebrais, mas problemas bullying, maus tratos, violência psicológica, mudanças de escola e divórcio dos pais, uso excessivo de redes, também podem desencadear problemas psíquicos”, alerta.
Diante disso, Luana ressalta o papel dos pais, que devem estar atentos nesse processo de desenvolvimento a fim de identificar qualquer instabilidade emocional, como: quadros de tristeza excessiva, desanimo em qualquer atividade da rotina todos os dias, diferenças claras no comportamento com outras crianças, isolamento social, alteração no sono e apetite, déficit de atenção, dificuldades de aprendizagem e em se concentrar.
Cuidados com o uso de antidepressivos em crianças
De acordo com a psicóloga, os antidepressivos só devem ser prescritos para crianças em casos de depressão moderada a grave ou em condições como transtornos de ansiedade, TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo) ou TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), e mesmo assim, quando outras intervenções, como psicoterapia, não forem suficientes.
“A psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), costuma ser a primeira linha de tratamento para crianças e adolescentes com problemas de saúde mental. Antidepressivos são considerados apenas quando a psicoterapia isolada não é eficaz”, alerta.
Luana reforça, que o uso de medicamentos na infância para tratar problemas de saúde mental implica em atuar no sistema nervoso central da criança, alterando a percepção, consciência e comportamento. Portanto, de acordo com a especialista, o uso deve ser feito com cautela.
"Eles podem causar efeitos colaterais, como ganho de peso, problemas de sono, irritabilidade e, em alguns casos, até pensamentos suicidas. Claro que o uso de medicamentos é e pode ser eficaz, mas é fundamental que seja feito com um acompanhamento contínuo por profissionais de saúde mental, monitoramento rigoroso dos efeitos colaterais e em conjunto com outras intervenções. Só assim é possível garantir o bem-estar a longo prazo da criança, minimizando riscos e promovendo o desenvolvimento saudável”, finaliza.