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O peso de nunca estar satisfeito

Frustração e insatisfação crônica: os males emocionais silenciosos que impactam alunos, professores e a sociedade como um todo. Vivemos em uma era marcada por avanços extraordinários — tecnológicos, científicos, sociais — e, paradoxalmente, por um aumento perceptível de mal-estares emocionais.

Atualizado em 14/05/2025 às 18:05, por Equipe SMO.

O peso de nunca estar satisfeito

Frustração e insatisfação crônica: os males emocionais silenciosos que impactam alunos, professores e a sociedade como um todo.

Vivemos em uma era marcada por avanços extraordinários — tecnológicos, científicos, sociais — e, paradoxalmente, por um aumento perceptível de mal-estares emocionais. Entre os muitos termos que circulam nas conversas sobre saúde mental, dois se destacam pela frequência com que aparecem e pela profundidade com que afetam a vida cotidiana: a insatisfação crônica e a frustração. Mas qual desses males exerce um peso maior sobre as pessoas? A resposta não é simples, mas vale a reflexão.

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A frustração é uma emoção natural e quase inevitável. Ela surge quando existe um desejo, uma expectativa ou uma meta — e algo se interpõe no caminho. É a barreira que nos impede de alcançar o que queremos, seja um amor não correspondido, uma promoção adiada ou um projeto que não se concretizou.

Em doses moderadas, a frustração é uma força motriz. Pode impulsionar mudanças, ensinar resiliência e até estimular a criatividade. No entanto, quando se acumula ou se repete com frequência, torna-se corrosiva. Pode gerar irritação constante, sentimento de impotência e, eventualmente, levar ao desânimo.Já a insatisfação crônica é mais sutil e, por isso, mais perigosa. É o sentimento constante de que algo está faltando — mesmo quando, objetivamente, tudo parece estar no lugar. É o indivíduo que conquista o que deseja, mas logo perde o encanto; que vive em busca de algo novo, mas nunca se sente pleno.

Essa condição cria um ciclo de busca contínua por gratificação externa, seja por meio de bens materiais, validação social ou realizações pessoais. E como nenhuma dessas conquistas é suficiente para preencher o vazio interno, a pessoa segue acumulando vitórias que se tornam rapidamente obsoletas aos olhos da alma.

Essa distinção entre frustração e insatisfação também se manifesta de forma contundente no ambiente educacional. Alunos, por exemplo, lidam com frustrações pontuais — uma nota abaixo do esperado, a dificuldade em aprender determinado conteúdo, a rejeição social. Já a insatisfação crônica aparece quando esses estudantes não veem propósito no que estão aprendendo, sentem-se desconectados da escola e incapazes de enxergar um futuro possível através da educação. O mesmo ocorre com muitos profissionais da área: enquanto a frustração pode vir da falta de recursos, da indisciplina ou da sobrecarga de trabalho, a insatisfação crônica nasce quando o professor sente que seu esforço não tem impacto, que sua missão perdeu sentido ou que sua vocação foi substituída por mera sobrevivência. Nessas condições, o desafio da educação não é apenas estrutural — é profundamente emocional e existencial.

Se a frustração é como uma pancada que dói, mas passa, a insatisfação crônica é como uma dor fantasma — constante, difusa e difícil de tratar. A frustração é identificável, tem causa e muitas vezes solução. A insatisfação crônica, por outro lado, é como uma neblina emocional: embaça a visão da realidade e impede o prazer pleno de viver.

Hoje, parece que mais pessoas sofrem de insatisfação crônica do que de frustrações pontuais. Vivemos sob a lógica da comparação — com vidas idealizadas nas redes sociais, com padrões inatingíveis de sucesso e felicidade. Alimentamos a sensação de que sempre deveríamos estar em outro lugar, sendo outra pessoa, vivendo outra história.

A frustração dói, mas ensina. A insatisfação crônica, muitas vezes, nem sequer é reconhecida como problema — e, justamente por isso, mina lentamente o bem-estar. Ambas merecem atenção, mas se há um mal que mais silenciosamente consome as pessoas hoje, é esse desejo contínuo por algo indefinido, essa fome sem nome que é a insatisfação crônica.

Talvez a saída esteja em reverter a pergunta: em vez de buscar o que falta, talvez devamos cultivar o que já temos. Entre frustração e insatisfação, quem pratica a gratidão pode descobrir um terceiro caminho: o da serenidade.

Por Daiane Casarotto e Gisele Cátia Carraro

Professoras da rede municipal de ensino de São Marcos