De ferramentas de trabalho a veículos de passeio: a paixão pelos caminhões antigos que virou hobby, negócio e identidade local
Em São Marcos, às vésperas da 54ª Festa de Nossa Senhora Aparecida e dos Motoristas, a restauração de caminhões clássicos, movimentos encontros, fortalece a economia local e preserva a história do transporte pesado

Igor Fongaro usando camiseta preta e boné escuro, em pé com os braços cruzados ao lado de um caminhão clássico Scania-Vabis laranja restaurado, em frente a um galpão com outros caminhões ao fundo. Foto: Angelo Batecini/São Marcos Online
São Marcos é conhecida nacionalmente pela força do transporte pesado e leva o título de Capital Gaúcha do Caminhoneiro. Sediada às margens de uma das principais rotas do Sul, a cidade transformou sua vocação em negócios, cultura e agora também em hobby. Nos últimos anos, o movimento de restauração e passeio com caminhões antigos, que começou pequeno, ganhou corpo e hoje projeta São Marcos no cenário nacional.
Quem confirma essa tendência é o restaurador Igor Fongaro, membro da Confraria das Raridades e referência nesse meio. Em entrevista ao São Marcos Online, ele contou que, de seis a sete anos para cá, a procura explodiu. “A gente começou com dois caminhões em encontros de veículos antigos; hoje são duzentos reunidos aqui, fora os que viajam para eventos em outros estados. É um hobby que envolve família, memória e paixão”, relata.
Segundo Fongaro, a vocação de São Marcos para reformas, peças e mão de obra qualificada também faz diferença: “Tem gente de vários estados que traz caminhões para restaurar aqui. É um setor em expansão e, para nós, também é uma forma de preservar história.”
Memória, economia e emoção
A febre dos caminhões antigos vai além da nostalgia. Ela movimenta oficinas, empresas de autopeças e mão de obra especializada. E atende um público variado: de motoristas veteranos que mantêm seu veículo de trabalho impecável a colecionadores que sempre tiveram ligação com o transporte, mas querem um caminhão para passeio.
O próprio Igor herdou a tradição do pai, que atua há mais de 50 anos no setor. Hoje, 80% da sua oficina é dedicada a restaurações. “É muito gratificante. A gente trabalha em família, de forma agendada, e já entregamos projetos para Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. Ver esses caminhões voltando à ativa e virando objeto de admiração é um orgulho”, diz.
Os modelos mais antigos – como 111, LK, 112 e 113 – são os mais procurados. Mas, segundo Fongaro, é preciso agir rápido: “Peças estão ficando raras. Esse movimento vai até certo ano, depois os caminhões já são de outro estilo. Eles podem se tornar antigos um dia, mas nunca terão a essência dos bicudos mecânicos de hoje”.
Confraria das Raridades
A Confraria das Raridades, criada por entusiastas locais, organiza passeios e encontros que atraem gente de várias regiões. As reuniões vão desde pequenas caravanas até grandes eventos, como o tradicional encontro de caminhões na Festa de Nossa Senhora Aparecida e dos Motoristas, que em outubro chega à 54ª edição.
“Só no último encontro, tivemos mais de duzentos caminhões. Quando paramos em algum lugar, chama a atenção: crianças querem subir para tirar foto, famílias registram o momento. É uma forma de mostrar às novas gerações como era a vida na estrada”, afirma Igor.
Patrimônio imaterial e oportunidade

Para São Marcos, esse movimento significa mais do que lazer. Ele preserva uma história de trabalho duro, fortalece a economia local e reforça a imagem da cidade como referência nacional no setor.
Às vésperas da Festa de Nossa Senhora Aparecida e dos Motoristas – um dos maiores eventos religiosos e de transporte do Brasil – a expectativa é de que os caminhões restaurados sejam um dos grandes atrativos, reunindo devotos, profissionais e turistas.
“Esse hobby nasceu do amor e do esforço de quem viveu a estrada. Hoje é uma oportunidade para novos colecionadores e um orgulho para quem mantém viva a tradição do transporte em São Marcos”, resume Fongaro.