Como está Juciane Bonella, são-marquense sobrevivente da tragédia da Boate Kiss
Após 10 anos, hoje aos 31 de idade, a médica veterinária mora em Guaíba e trabalha no Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamo (IPVDF). Juciane segue com terapias semanais para manter a saúde mental.

Após 10 anos, hoje aos 31 de idade, a médica veterinária mora em Guaíba e trabalha no Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamo (IPVDF). Juciane segue com terapias semanais para manter a saúde mental. Acompanhe entrevista
Dez anos após ter sobrevivido ao incêndio na boate Kiss, Juciane Bonella, de 31 anos e natural de São Marcos, conversou com a reportagem do Portal SMO nesta sexta-feira (27). A medica veterinária contou que segue com terapias semanais que ajudam a manter a saúde mental e disse estar bem. Hoje ela reside com o namorado na cidade de Guaíba-RS e atua em instituto de pesquisas veterinárias.
Na época, Juciane ficou hospitalizada por 68 dias em função das queimaduras e de complicações respiratórias, marcas do incêndio que deixou 242 vítimas fatais em 27 de janeiro de 2013, dentre os quais, cinco eram moradores da serra gaúcha e perderam a vida na tragédia da boate Kiss, que ainda deixou mais de 630 feridos.
O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, são: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
“Fiquei com dificuldade de fazer planos pro futuro, mas vivo muito bem o presente e tenho muita Fé que os planos de Deus são melhores que os meus”
Juciane, que ainda luta para minimizar as marcas da tragédia, revelou que se afastou das redes sociais e evita falar sobre o caso por indicação da profissional que lhe acompanha, mas cordialmente aceitou falar com o SMO sobre seu atual momento.
“Estou bem, mas ainda faço terapia semanalmente, cuidando muito da saúde mental. Estou morando em Guaíba e trabalhando na área que amo e escolhi”, disse Juciane à reportagem. “De 2020 até 2022 fiz Residência em Medicina Veterinária Preventiva – Ênfase em Doenças Infecciosas e Parasitárias na UFSM. Em seguida tomei posse num concurso da SEAPI do RS e hoje trabalho no IPVDF – Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor”, contou.
Juciane relevou que teve um filho em 2019 e que infelizmente faleceu com 10 dias de vida, mais um episódio de superação que teve que encarar.
“Estou morando junto com meu namorado há 6 anos e tivemos um filho, o Davi, em 2019, mas ele faleceu com 10 dias (tinha trissomia do cromossomo 13)”. Ela disse que o casal pretende ter mais filhos e conta que ambos se conheceram ainda na universidade e que ele, Fabiano Rocha, não estava na boate no dia do incêndio pois era dia da formatura da sua turma
“Ele é médico veterinário e está finalizando o doutorado em reprodução equina, dá aula na FSG em Caxias do Sul e se formou em 2013, não estava na Kiss pois era o dia da festa a fantasia da turma de formatura dele”.
Juciane também falou de São Marcos e da alegria e suporte que a família, que reside no município, lhes deu durante sua recuperação.
“Gosto muito daí e vou com frequência pra São Marcos, meus pais e irmão moram aí, são essências na minha vida. Gosto muito de estar com meus ‘nônos’, meus tios, minhas primas e os filhinhos delas e nos reunimos sempre quando estou em São Marcos”.
Sobre planos para o futuro, Juciane foi enfática ao dizer: “Fiquei com dificuldade de fazer planos pro futuro, mas vivo muito bem o presente e tenho muita Fé que os planos de Deus são melhores que os meus”.
Da sua recuperação, Juciane disse que, além da terapia semanal, faz exames a cada seis meses para tratar da tosse crônica que ficou e toma cuidados com a pele que ficou sensível.
Júri foi anulado e quatro réus foram soltos pela Justiça do RS
Os quatro réus pelo caso chegaram a ser condenados em dezembro de 2021, mas a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) anulou o júri após acolher parte dos recursos das defesas.
O julgamento, realizado em agosto de 2022, terminou com o placar de dois votos a um para reconhecer a anulação. Enquanto o relator, desembargador Manuel José Martinez Lucas, afastou as teses das defesas, os desembargadores José Conrado Kurtz de Souza e Jayme Weingartner Neto reconheceram alguns dos argumentos dos réus.
Atualmente, o processo está aguarda a conclusão de diligências para que a 2ª Vice-presidência do TJ-RS decida se admite os recursos movidos pela acusação e pelas defesas. Entre eles, estão pedidos de retomada do julgamento na 1ª Câmara Criminal e da prisão provisória dos réus. Se os recursos forem admitidos, eles seguirão para análise do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Supremo Tribunal Federal (STF).