Os Caminhos da Água: Distrito de Pedras Brancas é pioneiro em abastecimento coletivo de água potável
Comunidade perfurou primeiro poço em 1981. Atualmente, sistema é composto por três poços, tudo dentro das regras nacionais do Vigiagua Desde ontem (08/03) estamos publicando uma série de três reportagens mostrando o panorama da distribuição da água potável em São Marcos.

Comunidade perfurou primeiro poço em 1981. Atualmente, sistema é composto por três poços, tudo dentro das regras nacionais do Vigiagua
Desde ontem (08/03) estamos publicando uma série de três reportagens mostrando o panorama da distribuição da água potável em São Marcos. O município possui três formas de abastecimento de água para consumo humano:
- Sistema Corsan (com 89,45% da população alcançada)
- Solução Alternativa Coletiva (SAC, são 13 poços comunitários, com 2,2 mil pessoas beneficiadas)
- Solução Individual (poços domésticos, 0,17% da população)
As três modalidades de extração de água e de abastecimento formam o grande sistema hídrico que assegura água potável para todos e, pelo menos neste verão seco, descarta desbastecimento. Cada um dos três modelos depende dos outros. Ou seja, a palavra de ordem é preservar, preservar, preservar.
Hoje, mostramos como é o funcionamento da Corsan. Também contamos a história do primeiro poço comunitário, perfurado em Pedras Brancas 42 anos atrás.
Pedras Brancas fez escola em São Marcos no tema poço comunitário. O distrito perfurou o primeiro poço coletivo da cidade 42 anos atrás, em 1981. Na época, os moradores obtinham água potável por meio de vertentes próprias, como sempre fora.
A abertura de um loteamento, contudo, não deixou alternativa, visto que a Corsan atuava, e ainda atua, somente na área urbana: era necessário perfurar um poço capaz de abastecer com água potável os futuros moradores.
Passados 42 anos, São Marcos possui 13 poços comunitários. É a chamada Solução Alternativa Coletiva (SAC). O SAC de Pedras Brancas atende 120 famílias, tudo dentro das regras preconizadas pelo Ministério da Saúde.
Leia também: “O Caminho da Água: água potável para todos”
Para atender as regras oficiais, a SAC precisa atender uma série de itens. Entre esses itens, é necessário que o sistema tenha um líder, uma pessoa que fique à frente de tudo, desde a parte operacional até os aspectos burocráticos.
A presidente do poço

Atualmente, é Neiva Maria Fabro Corso quem responde pelo poço do distrito. Neiva é professora, e seu mandato de dois anos na presidência da Sociedade de Abastecimento de Água Pedras Brancas termina em dezembro.
O caso de Neiva é curioso: a professora não utiliza a água do poço comunitário. Na casa dela, a água segue vindo de uma antiga vertente familiar. A água comunitária abastece apenas o mercado da família, às margens da BR-116.
Então por que Neiva assumiu a função?
A professora assumiu a presidência da sociedade por absoluta falta de interessados no comando do poço.
“Eu não entendia nada, mas estou aprendendo”, conta a moradora, bem consciente da necessária cidadania que a comunidade deve, ou deveria, exercitar.
Três poços
A pioneira Pedras Brancas avançou. Hoje, o distrito possui três poços coletivos. Dois estão em funcionamento. O terceiro está em modo espera, pronto para ser acionado em caso de precisão.
Os dois poços em funcionamento são acionados alternadamente: um funciona das 6h até o meio-dia; o outro, das 13h às 21h.
“Deixamos os poços descansando durante a noite para se recomporem”, conta Neiva.
O reservatório do distrito tem capacidade para 60 mil litros de água.
A potabilidade da água consumida em Pedras Brancas é assegurada pelo respeito às regras do Vigiagua, programa do Ministério da Saúde que estabelece o padrão de qualidade da água consumida pelos brasileiros. A vigilância é exercida pela Vigilância Ambiental em Saúde da prefeitura de São Marcos.
Conheça o Vigiagua do Ministério da Saúde
Analise diária

Entre os itens que as comunidades devem observar está a análise da água. Em Pedras Brancas, uma personagem importante é Isadora. Filha de Neiva, Isadora coleta água diariamente para verificar o nível de cloro residual do reservatório. Ela coleta água da torneira, aplica o teste e insere o resultado numa planilha. Ao fim de 30 dias, um técnico contratado pelo distrito vem analisar a planilha, faz nova análise e coloca o cloro necessário no reservatório.
A contratação de um técnico é outra obrigação determinada pelo Vigiagua para permitir o funcionamento de uma SAC, os poços comunitários.
O trabalho de Neiva e de Isadora é voluntário.
“É bacana quando a gente consegue solucionar algum problema. Mas vamos poupar água”, recomenda a professora.
Em Pedras Branca, cada família paga R$ 60,00 ao mês para receber água potável. Lotes que não possuem imóvel mas que estão conectados à rede pagam taxa de R$ 120,00 ao ano. O dinheiro é guardado num fundo e é empregado para custear a operação e para eventuais emergências, como danos na rede ou no sistema eletrônico que controla os motores.
“Fui o primeiro a tomar a água do poço”, recorda Antoninho Novello
Antoninho Novello tinha 37 anos quando a comunidade de Pedras Brancas ficou cara-a-cara com a necessidade de perfurar um poço artesiano no distrito. O ano era 1981, e a Corsan já atuava em São Marcos desde 1971, mas a água pública era, e ainda é, oferecida apenas na área urbana.
Nesse cenário, alguns moradores projetavam criar um loteamento popular no distrito. O plano era urbanizar uma área e oferecer cerca de 80 lotes.

E a água?
Os empreendedores, Antoninho incluído, arregaçaram as mangas e investiram num poço artesiano capaz de abastecer com água potável os futuros moradores do loteamento.
A primeira tentativa de perfuração já teve êxito. Antoninho recorda que a água começou a jorrar logo, com apenas 20 metros de solo perfurados.
Os trabalhos prosseguiram até que a broca alcançasse 65 metros, a mesma profundidade que o poço possui hoje. A vazão sempre foi potente, e o poço jamais precisou ser aprofundado.
“Nunca faltou água”
“Poço igual a esse não existe! Nunca faltou água”, celebra Antoninho, ex-produtor rural e ex-caminhoneiro.
O resultado da perfuração foi excelente, e o loteamento até hoje é plenamente abastecido com água potável.
Os tempos, porém, eram outros, e o método de perfuração era antiquado se comparado à tecnologia atual. Naquele 1981, os trabalhos de broca demoraram dois meses até atingir os 65 metros de profundidade. Hoje, o mesmo serviço seria concluído em questão de dias.
Prestes a completar 80 anos, Antoninho recorda todo orgulhoso que foi o primeiro cidadão de Pedras Brancas a experimentar da água que recém-jorrava no novo poço, 42 anos atrás:
“Se tivesse que morrer, eu estava morto, pois fui o primeiro a tomar a água do poço”.
Comunidades atendidas por poços coletivos | |
Localidade | Famílias beneficiadas |
Linha Tiradentes | 45 |
Tuiuti | 25 |
Rio Redondo | 106 |
Polidoros | 25 |
Zambicari | 55 |
Rosita\Santana | 170 |
Santo Henrique | 40 |
São Roque | 130 |
Morro Carraro\Bela Vista | 36 |
Pedras Brancas | 120 |
São Jacó | 60 |
Travessão Miotto | 81 |
Fátima\Edith | 120 |
Zamoner* | 17 |
*A partir de julho |
Corsan não é afetada pela estiagem

A população urbana de São Marcos atravessa ilesa a terceira estiagem consecutiva e severa. O Sistema Corsan abastece com água potável 89,45% dos cerca de 21,7 mil habitantes, todos moradores da área urbana. Apesar da falta de chuva, a Barragem São Luiz não correu risco de deixar a população sem água.
A água distribuída pela Corsan é captada bruta no Rio Ranchinho. De lá, é bombeada à Barragem São Luiz, em funcionamento desde 1971. Na sequência, a água bruta é bombeada até a estação de tratamento. Na sequência, é distribuída para as 11 caixas instaladas em pontos estratégicos da cidade. Desses 11 reservatórios, é levada às cerca de 6,5 mil famílias clientes da estatal.
Questionada sobre investimentos na expansão da rede na cidade, a Corsan informa em nota:
“Plano de expansão: plano de ampliação da estação de tratamento para melhor atendimento”.
A Corsan em números
- A área atendida pela Corsan é de aproximadamente 10 km quadrados;
- A cidade possui 11 reservatórios de distribuição;
- Há cerca de 6,5 mil clientes;
- A estatal atende 89,45% da população da cidade;
- A taxa mínima do serviço é de R$ 35,61;
- A média de consumo é de R$ 100,00.
Leia amanhã:
Saiba por que é importante proteger vertentes rurais.
