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Safra intensa, tradição familiar e desafios do campo: Campestre da Serra vive auge da amora-preta e projeta futuro da produção

Produtores comemoram nova colheita e relatam rotina pesada, variação de preços e expectativas para o futuro da cultura que transformou o município na Capital Gaúcha da Amora.

Atualizado em 25/11/2025 às 07:11, por Angelo Batecini.

Dois produtores rurais de Campestre da Serra — pai e filho — aparecem sorrindo em meio ao parreiral de amora-preta. O pai, à esquerda, veste camiseta azul e boné; o filho, à direita, usa camiseta cinza e boné preto. Ao fundo, vê-se a plantação carregada de frutas.

Astrogildo Campos, 69 anos, e o filho Lindonês Rodrigues, 29, na plantação de amora da família na comunidade de Canta Galo, em Campestre da Serra. Os dois trabalham juntos no cultivo diário da fruta, símbolo econômico do município. Foto: Poliana Grizza / São Marcos Online.

Campestre da Serra segue no ritmo acelerado da safra de amora-preta, que movimenta dezenas de famílias e reforça a vocação agrícola do município. Depois de sediar, no início de dezembro de 2024, a 1ª Festa Estadual da Amora na comunidade de São Manoel, evento bienal tem retorno marcado para 2026, a cidade agora concentra suas energias no período mais intenso da colheita.

No centro dessa produção estão histórias como a do senhor Astrogildo Campos, de 68 anos, morador da comunidade do Canta Galo, que cultiva amora com o filho, Lindonês Rodrigues, 29. O produtor conversou com a reportagem e detalhou a rotina no pomar, os desafios do mercado e o orgulho de ver a cultura crescer na região.

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De aposentado a produtor: uma história de reinvenção

Astrogildo trabalhou 42 anos como empregado em indústrias antes de se aposentar. Foi então que decidiu iniciar uma pequena plantação de amora, inicialmente “uns pés”, como ele define. Em oito anos, a área cresceu e hoje soma 1.700 plantas.

Eu gosto de lutar com espinho. É a melhor coisa que tem”, brinca o produtor, destacando o orgulho de deixar ao filho uma atividade agrícola e não “um apartamento”, como diz em tom bem-humorado.

A família já trabalhava com parreiras para terceiros, mas encontrou na amora uma oportunidade de ter produção própria, mesmo reconhecendo que o trabalho é mais intenso.
 

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Astrogildo Campos e o filho Lindonês Rodrigues realizam a colheita diária da amora na propriedade da família, na comunidade de Canta Galo, em Campestre da Serra. A safra exige atenção constante, já que os frutos amadurecem rapidamente e precisam ser retirados todos os dias.

Safra diária e corrida contra o tempo

Ao explicar o ciclo da cultura, Astrogildo mostra a complexidade da tarefa:

  • a amora tem 4 a 6 estágios de maturação;
  • da flor ao fruto pronto, são 15 dias;
  • a safra rende cerca de 40 dias de colheita contínua;
  • é obrigatório colher todos os dias, sem intervalo.

Se ela ficar madura demais, estraga a outra do lado”, explica.
Uma noite quente é suficiente para a fruta amolecer e liberar o “melado” que compromete os frutos adjacentes. Por isso, durante pouco mais de um mês, o trabalho é diário, sem folga, um ritmo que poucos desconhecem fora do campo.

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Preço instável e incertezas do mercado

Mesmo com demanda crescente, o preço da amora oscila:

  • já chegou a R$ 6/kg,
  • caiu para R$ 5,
  • nesta safra está em R$ 4,
  • e produtores temem que em 2025 possa cair para R$ 3/kg.

Uma hora tem preço, outra hora não tem. Sempre foi assim”, comenta Astrogildo, lembrando que a produção exige dedicação intensa diária, diferentemente da uva, cuja colheita é concentrada e tem ciclo mais previsível.

Indústria e comércio: dois caminhos diferentes

Até o ano passado, a produção da família era destinada quase integralmente à indústria, especialmente empresas que utilizam amora para sucos, doces e derivados.
Agora, tentam acessar também o comércio local, vendendo bandejas para consumidores da região.

Mas não é simples:

Quem investe na amora quer entregar o produto. Vender no varejo é mais complicado”, relata.

Mesmo assim, a procura por amora in natura cresce, especialmente devido ao valor nutricional e aos usos culinários mais populares.
 

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Diferença entre a amora nativa e a cultivada

Astrogildo também explica a diferença entre a amora-preta de laboratório, as variedades Tupy e Caygangue, e a amora “do mato”, mais comum nos campos e beiras de estrada.

Segundo ele:

  • a amora nativa é majoritariamente branca e menos produtiva;
  • a variedade cultivada foi manipulada em laboratório e adaptada ao clima da região;
  • se cuidada, a planta nativa poderia produzir bem, mas ainda não atinge o padrão da industrial.

O produtor relata que muitos moradores tradicionais ainda têm restrições ao consumo da fruta, seguindo orientações médicas, mas destaca que a demanda segue forte entre quem busca sucos, geleias e consumo fresco.

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Campestre da Serra: polo produtivo e referência estadual

Com unidades produtivas espalhadas por diversas comunidades — São Manoel, Canta Galo, Capão Alto, entre outras —, Campestre da Serra mantém sua produção anual próxima de 1,5 milhão de quilos, envolvendo cerca de 150 famílias.

A variedade Tupy ainda responde por 95% da área plantada, e é destinada tanto ao mercado interno quanto à indústria. O título de Capital Gaúcha da Amora, aprovado pela Assembleia Legislativa, reforça a importância econômica e cultural do município, que se destaca também pelo turismo rural e pela gastronomia baseada na fruta.

Expectativas para 2026

Com a festa recém-realizada e forte participação popular, a comunidade já projeta 2026 como ano de nova edição da Festa Estadual da Amora, que tende a crescer ainda mais. Até lá, produtores esperam avanços em:

  • infraestrutura de armazenamento;
  • registro de defensivos específicos para a cultura;
  • incentivos à irrigação;
  • melhor acesso aos mercados regionais.

Enquanto isso, nas plantações como a de Astrogildo e Lindonês, o dia começa cedo e termina tarde, em meio a espinhos, frutos maduros e a certeza de que a cultura da amora, apesar das dificuldades, segue sendo uma paixão e um legado para as famílias de Campestre da Serra.