Papi Vero: Quando achar que faz muito, lembre de olhar pro lado
Desde o primeiro choro no parto até as noites interrompidas por cólicas, a chegada de um filho é um divisor de águas.
Foto: arquivo pessoal
É comum ouvir homens dizerem “eu também faço muito” — e é verdade: ajudam, participam, aprendem a trocar fraldas e a acalmar o bebê. Mas há uma diferença profunda entre “fazer” e “transformar-se”.
A mulher passa por uma metamorfose física, hormonal e emocional que não tem paralelo. O parto (seja vaginal ou cesárea), a recuperação do corpo, a produção de leite, as alterações do sono e da disposição — tudo isso acontece enquanto ela também assume a responsabilidade por cuidar de um ser que depende inteiramente dela nos primeiros meses. A amamentação, por exemplo, não é apenas uma tarefa: é um elo íntimo que exige tempo, disponibilidade e, frequentemente, sacrifício físico e psicológico.
Quando um pai afirma que “faz muito”, muitas vezes fala daquilo que é visível — trocar fraldas, dar banho, embalar o bebê. Esses gestos são essenciais e precisam ser celebrados. Porém, subestimam a acumulação diária de pequenas perdas que afetam especialmente a mulher: sono fragmentado, identidade profissional em ajuste, pressão estética e a expectativa social de ser a cuidadora natural. A soma desses fatores pode tornar a nova mãe mais vulnerável à ansiedade e à depressão pós-parto.
Reconhecer a diferença não é hierarquizar amor ou esforço, mas entender realidades distintas. Chamar atenção para isso é um convite à empatia: dividir tarefas domésticas, pedir e oferecer ajuda prática, escutar sem minimizar, e perceber quando a parceira precisa de suporte médico ou psicológico. Pai presente é aquele que vai além do gesto pontual e cria espaço para que a mãe se recupere, descanse e reencontre seus ritmos.
Ademais, há ganho para toda a família quando o parceiro se engaja de forma consciente. Ao assumir responsabilidades contínuas ele não só alivia a sobrecarga materna, como também fortalece o vínculo com o bebê e atua como modelo de cuidado para a criança. A transformação da mãe não deve ser invisível nem romantizada; precisa ser reconhecida e partilhada.
No fim das contas, dizer “eu também faço muito” pode ser um começo honesto — desde que seja seguido por ouvir, aprender e agir. É nesse movimento que o cuidado se torna coletivo, e a família, verdadeiramente, se constrói juntos.
Um abraço do PAPI VERO










