Fernando Machado chama o dono do São Marcos Online de “vagabundo” e diz que vai “quebrar ele a pau”, caso vá às manifestação. O caso foi registrado na Polícia Civil. Fernando já é réu em processo por calúnia contra o mesmo profissional, ocorrido em 2020. ” A desinformação é a causa de tudo isso”, diz o jornalista

As manifestações de bolsonaristas contrários aos resultados das eleições do último dia 30 ainda reverberam nos principais centros populacionais do Brasil.

Desde a apuração das urnas, que culminou com a vitória de Lula com 50,9% contra 49,1% de Bolsonaro, foi desencadeada reação que levou milhares de simpatizantes às ruas. Eles bloquearam rodovias e foram pra frente dos quartéis exigindo intervenção do exército sob alegação de fraude.

Em São Marcos não houve bloqueio da BR 116 mas, apesar da aparência pacífica há alguns episódios a se lamentar e que merecem notoriedade e atenção por parte das lideranças envolvidas e órgão de segurança. Na noite da terça (1) um caminhoneiro que passava pela área onde estavam os manifestantes teve ferimentos leves no ombro após uma pedra ser arremessada contra o para-brisas do seu veículo. Já a prefeitura, cancelou palestra com o poeta Bráulio Bessa marcada para a próxima semana diante de ataques e ameaças a integridade física do artista por parte de alguns envolvidos nas manifestações.

Assim como Bolsonaro fez durante seus 4 anos de mandato, ataques à imprensa também foram registrados. Desde a manhã da última segunda-feira (31), após áudio do líder do movimento na cidade, incitando a violência contra o jornalista e responsável pelo Portal São Marcos Online, Angelo Batecini Junior, o portal adota medidas de segurança e vem registrando manifestações hostis em redes sociais.

No áudio vazado de um grupo de apoiadores composto por empresários, políticos e lideranças de entidades locais, o eletricista Fernando Machado, que desponta como organizador dos manifestos chama Angelo de “vagabundo” e ameaça agir com violência, caso o profissional de imprensa apareça no local, “vamos cagar ele a pau” diz Fernando aos amigos bolsonaristas. No mesmo áudio, ele pede ajuda das rádios e jornais da cidade para levar sua mensagem até a população, com exceção do SMO.

Diante da incitação e iminente ameaça a sua integridade física, Angelo prestou queixa na DP local e o caso é investigado pela Polícia Civil. Cabe destacar que o líder bolsonarista de São Marcos já responde processo contra Batecini, onde é réu por calúnia e difamação, justamente por divergências políticas. Agora o novo BO soma ao antigo processo.

Não bastasse a ameaça inicial, o manifestante bolsonarista voltou a incitar a população contra o jornal durante ato nesta quarta-feira (2), acusando o veículo de disseminar de fake news.

Confira nota emitida por Angelo Batecini Júnior

“Em 20 anos atuando na área da comunicação e com passagem por diversos veículos e em 12 de São Marcos Online, nunca fui ameaçado dessa maneira, sendo este o primeiro registro policial feito durante o exercício da função de jornalista. O fato me deixa chateado pois, além de ser impedido de trabalhar sob ameaça, o que já é crime, ainda coloca em risco as pessoas que me cercam e a credibilidade adquirida em anos de dedicação a profissão na cidade.

Além da pauta antidemocrática, esse cidadão usa de palanque para colocar uns contra os outros e pior, foi aplaudido por parte dos manifestantes. Destaco ainda que essa perseguição já vem de anos e inclusive há processo judicial contra ele por calúnia. Lamento mais uma vez que alguns líderes e parte da população estejam sendo usados como massa de manobra por pessoas de má fé. Qualquer manifestação ou questionamento social, desde que seja de forma democrática e saudável, será bem vinda e terá minha atenção e do meu jornal mas, não posso compactuar discursos de ódio transvestidos de amor. Sempre buscamos atuar com apuração dos fatos para justamente evitar distorções, mas quando uma sociedade nega a informação como ela é por não concordar e prefere viver em uma realidade paralela alimentada por notícias falsas, não há muito o que se fazer, a não ser lamentar. Eles não leem um jornal mas acreditam nas informações de WhatsApp”.

Angelo Batecini aponta ainda a importância das pessoas entenderem que, tanto incitar o ódio publicamente, quanto impedir jornalistas em exercício da função ou sob ameaça ou mesmo pedir intervenção militar exaltando os ânimos da população e usando de terrorismo psicológico, como foi feito no palanque em São Marcos, configuram crime.

O jornalista lembra que justamente nesta semana em que recebeu os ataques, também é marcada pelo Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, escolhido pela ONU como 2 de novembro. Em todos Brasil, durante o governo Bolsonaro e principalmente agora, durante as manifestações, há vários registros de profissionais agredidos e até mortos em nome da “liberdade”.

As manifestação seguem Brasil a fora e em São Marcos está sendo convocado encontro neste fim de semana e paralização a partir da segunda-feira. Os grupos estão se organizando através das redes sociais.