Gilberto Blume: Um pouco de prática na Campanha da Fraternidade
Restam poucas dúvidas. Embora aqui e ali ainda pipoquem alguns negacionistas renitentes, estamos, sim, vivendo tempos de profundas alterações climáticas. Mas o tema aqui não são os descrentes de qualquer ordem.

Restam poucas dúvidas. Embora aqui e ali ainda pipoquem alguns negacionistas renitentes, estamos, sim, vivendo tempos de profundas alterações climáticas. Mas o tema aqui não são os descrentes de qualquer ordem. O tema, aqui, são reflexões e ações em andamento que tentam mitigar o mal que parece ser inevitável.
A Igreja Católica do Brasil está mais uma vez engajada nos alertas. A Campanha da Fraternidade 2025 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu o tema Fraternidade e Ecologia Integral. O lema da campanha é Deus Viu que Tudo era Muito Bom (Gn 1,31). É a nona Campanha da Fraternidade que mira o meio ambiente.
Neste 2025, tema e lema vieram a calhar, é mais uma tentativa de aproximar o cristão brasileiro da pauta ambiental. O foco da Campanha da Fraternidade não é definido em gabinete. Os bispos recebem sugestões de congregações e ordens religiosas, de fieis, de leigas e leigos, enfim, de um catatau de gente que tem algum conteúdo para dividir com a sociedade.
Informação relevante: nesta Campanha, a CNBB também cita os 800 anos do Cântico das Criaturas, assinada por São Francisco de Assis, um dos primeiros ambientalistas planetariamente reconhecidos. O Cântico das Criaturas (conhece?) é uma joia atualíssima.
Tá, e na prática, a Campanha da Fraternidade 2025 está sendo aplicada de que forma nas cidades Brasil afora?
Depende da condução que os padres dão ao tema. Pois os padres são os líderes que conectam as populações às orientações da cúpula católica.
O pároco de São Marcos não titubeia, optou pelo óbvio, optou pelo que se espera de um líder espiritual da comunidade. Padre Paulo Venturin abraçou forte o tema Fraternidade e Ecologia Integral. Na homilia que conduz nas celebrações, tem abordado o assunto de forma direta, sem rodeios, pedindo providências para o que considera equívocos coletivos e que precisam ser sanados.
Nas missas e no cotidiano, padre Paulo tem dispensado especial atenção à destinação dos resíduos urbanos. O religioso não poupa críticas, no que está coberto de razão.
O padre está numa cruzada particular para melhorar o manejo dos resíduos depositados nos contêineres. Verdade seja dita, o padre não está trazendo novidade alguma. Qualquer um de nós que espiar o conteúdo dos contêineres verá que a situação é dramática, visto que orgânicos e recicláveis formam uma massa inacreditável, tudo misturado, tudo errado. A coisa toda só piora porque ninguém sabe ao certo se o destino final dos resíduos é correto ou se.
A diferença entre eu, tu, nós e o padre, é que o padre é um canhão capaz de mover setores em que eu, tu, nós sequer provocamos arranhões. Ou seja, ninguém nos dá bola.
“O padre é muito importante. Não adiante ter Campanha da Fraternidade se não avançar nesse sentido”, defende o religioso. Coberto de razão, ele critica o fato de as escolas orientam separação de resíduos às crianças se em casa e nas ruas o resíduo é tratado como lixo.
“A empresa é paga para resolver isso”, lembra.
O braço do padre está saindo do templo. Semana passada, ele revelou que levou seu pleito à vice-prefeita e a vereadores. Ao encerrar esta conversa, se dirigiu à secretária da paróquia e solicitou:
“Por favor, telefone para a secretária do Meio Ambiente e diga que preciso conversar com ela”.
Oremos.
Recado do próprio padre para quem acha que a Igreja não deve se envolver nesses assuntos mundanos:
“A Igreja deve se meter nisso, sim”.
Identidade visual da Campanha da Fraternidade
São Francisco de Assis, autor do Cântico das Criaturas, na obra “Êxtase de São Francisco de Assis”, de Jusepe De Ribera. A cruz, elemento importante quaresmal e franciscano
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