Dificuldades no autocuidado e suicídio
Comportamentos de descuido com a própria saúde podem esconder formas sutis de autodestruição e precisam de atenção psicológica e psiquiátrica.

Há quem viva por viver, mesmo que as palavras digam o contrário. Mas atitudes revelam o que pode ser um desejo inadmissível para si.
Quando pensamos em suicídio é comum imaginar as pessoas que tiram a própria vida com armas de fogo, ou com o uso intencional de medicamentos em altas doses. Mas existe uma maneira menos clara de intencionalidade de romper com a própria existência e talvez mais difícil de perceber, que é uma forma de agressividade dirigida a si em comportamentos em que o sujeito tem por exemplo uma doença crônica e recebeu esclarecimentos médicos e tem acesso ao tratamento, mas não se alimenta adequadamente, ou não toma as medicações e acaba por ter intercorrências médicas devido a esses comportamentos. Também podem ser casos em que as pessoas repetem condutas de risco, como dirigir imprudentemente, fazer esforço físico após procedimento cirúrgico ou se colocar em situações em que parecem ter a autocrítica prejudicada.
Em psicanálise entende-se e trata-se desses comportamentos em psicoterapia, e muitas vezes com tratamento medicamentoso
concomitantemente orientado por psiquiatra. Na psicoterapia assinalamos ao paciente os pensamentos e fantasias inconscientes que direcionam a sua agressividade para si, ou seja, aquilo que pensam, sem saber que pensam e os leva a agir. Assim a pessoa pode passar a se responsabilizar por seu cuidado.
Geralmente pacientes com comportamentos autodestrutivos voltados para si vêm para atendimento psicológico por sugestão ou por imposição dos familiares que narram não conseguir ajudar, relatando sensação de impotência e preocupação, dizendo que não adianta falar que a pessoa parece
não escutar.
Em casos como estes, o tratamento em psicoterapia e medicamentoso visa também a investigação de doenças psíquicas como depressões, oscilações de humor e transtornos de personalidade.
Há quem viva por viver, mesmo que as palavras digam o contrário. Mas atitudes revelam o que pode ser um desejo inadmissível para si.
Se há alguém que você conhece que está precisando de ajuda psicológica/psiquiátrica, com dificuldade de autocuidado, busque um profissional da área Psi. Não devemos deixar de ajudar porque a pessoa tem comportamento difícil, podendo nos despertar sentimento de raiva. Pelo contrário, devemos nos propor a ajudar quem pode estar sofrendo de uma forma que aparece disfarçada.
Artigo da Psicóloga Carina Perozzo