‘Ainda Estou Aqui’ faz história e traz o primeiro Oscar de Melhor Filme Internacional para o Brasil
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A vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar é um marco para o Brasil, que apesar de ter tido indicações, ainda não havia conquistado o prêmio
O Brasil celebrou uma conquista histórica na noite de domingo (2), quando o filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2025. A premiação, organizada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, consagrou a produção brasileira como a primeira a conquistar essa estatueta.
Emocionado ao subir ao palco, Walter Salles dedicou o prêmio à protagonista da história, Eunice Paiva, que enfrentou a perda do marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar no Brasil. “Esse filme vai para uma mulher que, após uma perda enorme por um regime autoritário, decidiu não se render: Eunice Paiva”, afirmou o diretor. Ele também homenageou Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que interpretaram Eunice em diferentes fases da vida.
A vitória é um marco para o cinema brasileiro, que, apesar de ter tido produções indicadas anteriormente, ainda não havia conquistado esse prêmio. O Orfeu Negro (1960) venceu na categoria, mas como uma produção francesa, embora filmado no Brasil e falado em português. O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que é Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999) também foram indicados, mas não levaram a estatueta.
Trajetória de sucesso e reconhecimento internacional
O longa recebeu aclamação da crítica e teve uma trajetória bem-sucedida em festivais internacionais, sendo premiado no Globo de Ouro, Goya, Festival de Veneza e Festival Internacional de Roterdã. Nos Estados Unidos, chegou a ser exibido em mais de 700 salas, um feito raro para uma produção brasileira.
Para a crítica internacional, Ainda Estou Aqui é uma obra que mistura o pessoal e o político de forma visceral. O jornal britânico The Times classificou o filme como “um dos maiores sobre maternidade”, comparando-o a clássicos como Mildred Pierce e Quarto. A crítica Caryn James, da BBC, afirmou que poucos filmes retrataram os efeitos devastadores da política sobre os indivíduos de maneira tão íntima e oportuna.
Por outro lado, algumas vozes apontaram que a abordagem de Salles pode ter sido contida demais. O crítico Peter Bradshaw, do The Guardian, comentou que “o filme ignora o horror e a raiva que certamente também devem estar presentes nesta história”. Para ele, o longa poderia explorar ainda mais o impacto político da ditadura.
A importância do filme e o impacto no Brasil
A vitória também repercutiu no meio político. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou nas redes sociais, destacando o orgulho do cinema nacional e da democracia brasileira. “É o reconhecimento do trabalho de Walter Salles e toda equipe, Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, Selton Mello, Marcelo Rubens Paiva e sua família. Uma obra extraordinária que mostra a importância da luta contra o autoritarismo”, declarou Lula.
O filme, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, reconstrói a história de Eunice Paiva, que lutou incansavelmente por justiça após o desaparecimento e assassinato de seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, durante a ditadura militar. O impacto emocional da narrativa é reforçado pelas interpretações de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, que vivem diferentes fases da personagem.
Em entrevista, Walter Salles destacou que o reconhecimento da Academia é também um reconhecimento à cinematografia brasileira. “Esse filme, mais do que qualquer outro que dirigi, foi feito para oferecer um reflexo do Brasil em um momento complexo de sua história. Esse é o verdadeiro prêmio”, afirmou o cineasta.
Com a histórica conquista de Ainda Estou Aqui, o Brasil entra definitivamente no hall dos países que já levaram um Oscar na categoria de Melhor Filme Internacional. Além disso, a produção reacende o debate sobre a memória da ditadura e o papel da arte na construção da história nacional.